Mais de 80% dos adolescentes do mundo são inativos, diz OMS

Revolução eletrônica parece ter transformado os padrões de movimentação dos adolescentes, diz pesquisadora

Relatório aponta que um em cada quatro jovens não praticam atividades físicas em nível suficiente, o que pode acarretar sérios danos à saúde. Problema é maior entre as meninas.

Um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que jovens em todo o mundo praticam atividades físicas em níveis bem menores do que o ideal.

Segundo a OMS, 81% dos adolescentes, ou seja, quatro em cada cinco jovens, não se movimentam de maneira suficiente, com menos de uma hora por dia de atividades físicas, o que pode acarretar sérios danos a à saúde. Chama a atenção o fato de que o problema é maior entre as meninas.

O relatório, publicado pela revista científica The Lancet Child & Adolescent Health Journal, se baseia em pesquisas realizadas entre 2001 e 2016 com mais de 1,6 milhão de estudantes de idades entre 11 e 17 anos em 146 países. Entre estes, 81% não se enquadravam na recomendação da OMS de exercer ao menos uma hora diária de atividades físicas como caminhadas, jogos, andar de bicicleta e práticas esportivas em geral. 

Apesar de metas globais ambiciosas para aumentar as atividades físicas entre os jovens, o relatório afirma que não houve mudanças no período de 15 anos avaliado no levantamento.

A OMS não especificou os motivos da inatividade entre os jovens, mas a coautora do estudo Leanne Riley observou que “a revolução eletrônica […] parece ter transformado os padrões de movimentação dos adolescentes e os encorajado a passar mais tempo sentados e serem menos ativos”. Muitas vezes, a falta de infraestrutura e de segurança dificulta que os jovens possam caminhar ou utilizar bicicletas para ir à escola.

O estudo revela que os níveis de inatividade física se mantiveram no patamar mais alto entre os adolescentes de diversas regiões e países, variando de 66% em Bangladesh para 94% na Coreia do Sul. “Encontramos níveis altos em praticamente toda parte”, disse a autora principal do estudo, Regina Guthold. Ela afirma que em muitos países, entre 80% e 90% dos adolescentes não se enquadram nas recomendações da OMS.

A questão é ainda mais preocupante no que diz respeito às meninas. Apenas 15% delas estão dentro das recomendações da OMS, contra 22% dos meninos. As jovens são mais ativas em apenas quatro países avaliados: Afeganistão, Samoa Tonga e Zâmbia.

Enquanto a situação dos meninos apresentou leve melhora entre 2001 e 2016, com os índices de inatividade caindo de 80% para 78%, o percentual entre as meninas se manteve em 85%. Em muitos países, as disparidades de gênero parecem estar ligadas a pressões culturais para que as jovens permaneçam em casa ou evitem práticas esportivas, além de preocupações com a segurança em ambientes externos. 

Isso, porém, não explicaria o motivo pelo qual a maior disparidade entre os gêneros foi registrada nos Estados Unidos e na Irlanda, países onde a diferença entre os níveis de atividade de meninos e meninas é de mais de 15%.

As atividades físicas trazem enormes benefícios à saúde, como melhoras nas condições cardíacas e respiratórias e nas funções cognitivas, facilitando o aprendizado. Além disso, os exercícios são fundamentais no combate à epidemia sistêmica de obesidade.

A OMS estabeleceu como meta a redução da inatividade dos jovens entre os jovens de 11 a 17 anos em 70% até 2030. “Precisamos certamente fazer mais ou veremos um quadro bastante negativo em relação à saúde dos adolescentes”, afirmou Leanne Riley.

Texto: DW, Alemanha/RC/dpa/afp.