
Magistrado linha-dura, fala baixa e ligeira, dono de um peculiar senso de humor, esses são os adjetivos mais usados pelos amigos, familiares e companheiros de trabalho para descrever Antônio Sapucaia, que faleceu na madrugada desta quinta-feira (3), devido a um infarto fulminante.
Considerado uma grande personalidade da magistratura alagoana, Antônio Sapucaia nasceu em Murici, no interior de Alagoas, mas passou boa parte de sua vida em Pilar. Foi jornalista, escritor, advogado, juiz, desembargador, membro da Academia Alagoana de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Por onde passou, deixou sua marca profissional e pessoal, conquistando o respeito e admiração de muitos alagoanos, ilustres e populares.
O governador Renan Filho, declarou em nota oficial que “hoje é um dia de dor e saudade para todos nós em Alagoas. Dia de dar adeus e render homenagens ao grande alagoano Antônio Sapucaia da Silva”. No texto de pesar, o representante do Executivo alagoano, recordou da coragem e disposição de Antônio Sapucaia, que mesmo após se aposentar, aos 70 anos, aceitou a missão de ser diretor-presidente do Detran-AL. “Em apenas dois anos, entregou o Detran saneado e renovado na gestão e na imagem”, afirmou.
Além de ser exemplo para a magistratura do Estado, Sapucaia se destacou no jornalismo alagoano. Em 1968 foi responsável pela primeira entrevista com Róseo Moraes, um dos acusados do assassinato de Delmiro Augusto da Cruz Gouveia, em 1917. A matéria, publicada na Gazeta de Alagoas, Jornal do Comércio, em Recife, e pela revista Cruzeiro, causou um rebuliço na sociedade, revelando a verdade sobre os fatos da confissão de Róseo Moraes.
Após a publicação, Sapucaia foi constituído advogado de defesa, junto com Antônio Aleixo Paz de Albuquerque, mas deixou o caso em 1971, quando se tornou juiz. O processo foi transferido para Moacir Medeiros de Sant’Ana que, juntamente com Albuquerque, realizaram a revisão criminal.
Todo andamento do processo foi eternizado no livro Revisão Criminal do Processo Delmiro Gouveia. O projeto, sonhado por Sapucaia há mais de dez anos, que por décadas reuniu documentos, publicações, fotos e relatos, foi concretizado numa parceria com Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Comunicação (Secom) e da Imprensa Oficial Graciliano Ramos. No prefácio da obra, Antônio Sapucaia ressaltou a gratidão de sua última realização ao governador Renan Filho.
“Me orgulho da amizade mantida com Sapucaia ao longo de décadas e especialmente me honra ter sido parceiro na realização do último projeto dele, uma obra de enorme importância histórica. Como companheiros de profissão, passei a prestar atenção nele e colhi grandes lições de jornalismo e de cidadania”, contou o secretário da Comunicação do Estado, Enio Lins.
“Para nós, foi uma honra conviver com Sapucaia e acompanhar de perto o processo de publicação desta obra ao lado de alguém tão admirável. À família, nossos sinceros sentimentos. A ele, nossa eterna gratidão”, manifestou Dagoberto Omena, diretor-presidente da Imprensa Oficial Graciliano Ramos.
Quem também acompanhou Antônio Sapucaia durante o processo de lançamento do livro foi o professor e historiador Edvaldo Nascimento. “Nos tornamos amigos; A firmeza de suas convicções, o sentimento de indignação com as injustiças permanecem como ensinamentos. Como juiz e desembargador deixa um legado de dignidade e espírito público”.
A humildade, as transformações sociais e o compromisso com sua terra é o legado deixado para todos os alagoanos neste momento de despedida.
Texto: Dayris Carvalho. Foto: Felipe Brasi..